sexta-feira, 18 de abril de 2014

Memórias de um tempo que não vivi

 


O primeiro instante me deixou sem ar. A dúvida pairava por dois dias angustiantes. Tomei a atitude. Perguntei o que queria comigo.

Engasguei com saliva. Meu mundo, construído sobre tantos conceitos e dogmas, rompeu em milhares de pedaços. O véu que cobria meu universo interior rasgou-se. Havia encontrado o que chamam de "Amor". Acho.

Estava cheio de vida naquele inverno misterioso de julho de 2012. Renasci ao calor dos seus beijos e da intensidade da sua paixão. Estava morto até então, cantarolando meu funeral, sem imaginar que outro mundo era possível. Tanta vida tornou os dias mais coloridos e os sons mais nítidos. Nunca havia parado pra ouvir com atenção os batimentos cardíacos. Vida.

Imergi numa nova visão sobre o que sempre vi. Amélie Poulain me guiou para uns hábitos levemente bobos. O mais belo por do sol vi ao lado deste amor. Ainda recordo de alguns assuntos que costumávamos compartilhar nas madrugadas frias, com coqueiros e a luz da lua compondo o cenário pela janela aberta.

Uma camisa de praia. Uma foto 3x4. Um cenário nublado. Uma amiga que se tornou minha amiga também. Um doce caseiro. Uma canção da Clarice. Uma fita vermelha. Uma tragédia.

 "Nem vi você chegar, foi como ser feliz de novo".
Também não vi você sair. Apenas aconteceu. 

Três meses de dor. Um ano depois, memórias nostálgicas e lembranças desfocadas, incerteza de que tudo isto foi real, como um sonho que você jura ter acontecido e ninguém acreditará.

Quem sabe o amor ainda está ali, quem sabe aquelas promessas não foram em vão, quem sabe o destino esteja apenas nos pregando uma sádica peça. Talvez eu esteja enganado.

Rodrigo, anos depois, sem teu semblante, sobram apenas memórias de um tempo que não vivi.

Olimpos Particulares

 



Sobre as planícies de todas as nações
Estendem-se Olimpos Particulares.
Os antigos jamais sonhariam ser possível tal benção.
Prometheus roubou para nós o fogo dos deuses
Nós lhes roubamos sua própria divindade.

Há um preço, sempre há.
Nos Olimpos Particulares se cultua a humanidade, mas se odeia o outro.
A natureza e as máquinas foram obrigadas a prostrar-se.
Para sempre, nesta Apoteose, se gozará de tais benefícios,
As custas do sofrimento de outros indivíduos, iludidos que são deuses

Esqueceram o processo e o tempo, estes foram abolidos, expulsos.
O imperador deste autoritário e bizarro governo é o imediato.

Sacrifícios existem, como em qualquer cultura pagã.
Porém, tais humanos são seu próprio sacrifício, altar e dádiva.
Não sentem, não se importam, não medem as consequências, não amam.
São eternamente escravos de sua imortalidade, conquistada com duro esforço.

Todavia, o que aconteceu com os efêmeros humanos?
Aqueles que não permitiram a si mesmos tal condenação?
Estes vivem hoje no Olimpo, situado sobre uma montanha de díficil acesso.
Sim, o verdadeiro, qual foi habitado pelos doze antigos deuses.

Lá, amam intensamente, embora o isolamento lhes seja um espinho na carne
Descobriram a transcendência de sua humanidade em meio as ruínas
Entenderam filósofos que taxaram de loucos durante toda sua existência
Não encontraram a felicidade, pous tal não existe,
senão apenas como ilusão nos Olimpos Particulares

Encontraram um tesouro mais sublime: a Beleza na sua própria miséria e condição
Quem diria, que chegaria o dia, em que seriam os deuses a nos invejar.

Assim Uivou Leão Alado

Tédio

 


Uma ressaca de domingo cura qualquer desilusão. 
Não o álcool, mas o que vem depois.
Durante, apenas reclamações de cousas óbvias.
Sempre o mesmo ciclo, sempre as mesmas reações.

Relações terminam e recomeçam todos os dias.
Personas machucam propositalmente e amam sem querer.
Todos sabem qual o resultado das discussões que se envolvem.
Tão certo quanto um divórcio da Gretchen.

Mas o que é feito para olhar além da mesmice?
"Evitar, por que evitar?", disse o incauto. 
Se eu soubesse o que incauto significa,
Isto seria bem mais emocionante que a repetição destes ciclos sem fim.

Treinei-me para não me preocupar com tudo e todos.
Encontrei alguma graça no tédio.

Assim Uivou Leão Alado